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PATOLOGIAS DA GESTAÇÃO

II- INERENTES À FÊMEA

Dentre as patologias que ocorrem mais tardiamente na gestação, ou seja, no período próximo ao parto temos:

 1. Edema da gestação

É um distúrbio fisiológico que aparece no final da gestação (8º mês em vacas), causando edema dos órgãos genitais externos, períneo, glândulas mamárias, partes baixas do abdômen e membros.

Nas fêmeas domésticas chega a ser bastante exagerado, sendo mais comum na vaca (grandes produtoras de leite ou primíparas), égua e cadela. O edema é frio e indolor.

Existe uma certa predisposição individual além do fator manejo.

É causado por estabulação permanente, peso do útero (alterações circulatórias), distúrbios renais (levam à hipoproteinemia), alimentação deficiente em proteínas.

A égua apresenta uma infiltração edematosa no boleto que tende a diminuir se o animal é submetido a exercícios adequados.  Caso contrário atinge tarso e aparelho mamário.

 Tratamento

Duchas locais

Diuréticos (Lasix)

Exercícios leves (passeios)

Anti histamínicos (Fenergan)

Indução do parto.

Antitóxicos

Gluconato de Calcio IV

 2. Ruptura do tendão pré - púbico

É uma patologia que ocorre no final da gestação.

Acomete éguas (principalmente aquelas de tração, pelo maior esforço a que são submetidas, com conseqüente enfraquecimento do tendão do músculo reto abdominal, bem como de sua inserção) e vacas idosas (cuja inserção é anatomicamente fraca, pois ao se inserir no púbis forma como que um degrau).

Além desta predisposição anatômica associada ao esforço, pode ser causada por volume exagerado de líquidos fetais (hidropsia), principalmente em vacas, e gestação gemelar), peso do útero, traumatismos como quedas, saltos, etc. e processos degenerativos do próprio tendão.

 Sintomas

Logo após a ruptura aparece um edema abdominal cranial à base do úbere podendo alcançar até o esterno.

Na evolução o úbere torna-se caído, o abdome distendido e só contido por musculatura e pele.

O animal apresenta dificuldade de locomoção e nas éguas aparecem ainda sinais de taquipnéia (compressão diafragmática), sudorese e cólica.

 Tratamento

Não há tratamento eficiente.

Preconiza-se induzir o parto ou fazer-se uma cesariana.

Animais com este problema devem ser descartados.

 

3. Hérnia gravídica da cadela ou histirocele inguinal gravídica

Quando um dos cornos uterinos ou ambos encontram-se no anel inguinal.

 Causas:

  • Na cadela:o ligamento redondo do útero se insere em uma das bordas do anel inguinal, podendo entrar e pressionar o anel.  Difícil redução.  

  • Nos ruminantes:chifradas.Além disso atuam como fatores predisponentes o aumento da pressão intra abdominal.  

Tratamento

Ficar na expectativa que a gestação se complete, fazendo-se então a hernioplastia e cesariana com histerectomia pela via inguinal.  Como há risco de recidivas, afastar a fêmea da reprodução.

 4. Paralisia  ou paraplegia  ante parto

Ocorre principalmente em vacas, ao final de gestação ou logo após o parto, com maior incidência em animais idosos ou que parem crias grandes, onde há um maior relaxamento do ligamento sacro isquiático.

Causada por:

  • Deficiências nutricionais - Ca, Cu, P, Co, CHO, vitaminas, gorduras,etc.

  • Alterações circulatórias (hidropsia das membranas fetais).

  • Acetonemia.

  • Febre vitular.

  • Tétano puerperal (hipocalcemia das éguas).

  • Lesões tendinosas e articulares (o animal fica em decúbito pela dor).

  • Fraturas (membros posteriores, pelve, coluna).

  • Compressão do feto no plexo nervoso sacro isquiático.

  • Principalmente por deficiência de Mg (tetania das pastagens).

  • Processo infeccioso em aparelho genital

  • Raiva paralítica.

Sintomas

Aparecem geralmente na segunda metade da gestação com ocorrência brusca, dificuldade de se manter em estação e sensibilidade.

 Tratamento

De acordo com a causa, pode-se optar por uma cesariana.

Quando ocorre após o parto administrar estimulantes do SN, por uma semana, lentamente, como GABA ou estricnina (Stricnaneurin, Proteinol), Gazax injetavel.  Medicamentos à base de acido gama amino butírico.

Nos casos de fratura geralmente é indicado o sacrifício (principalmente se for de membros posteriores)

 5. Torção de útero

É o movimento de rotação do útero em torno do seu eixo longitudinal, de forma a obliterar o conduto vaginal.

Ocorre no final da gestação, próximo ao parto, sendo que nas pequenas espécies acomete geralmente um único corno.

São freqüentes nas vacas leiteiras e ocasionalmente podem surgir em vacas de corte. cadelas, gata, ovelhas, cabras e éguas.  Raramente ocorre na porca.  Animais mais velhos, com múltiplos partos são mais predispostos pela fragilidade de seus ligamentos.

Nos ruminantes existe a predisposição anatômica já que o útero é bicórneo e a gestação ocorre em um dos cornos causando um desequilíbrio ao tempo em que o rúmen tende a rechaçar também o corno grávido (as torções geralmente ocorrem para o lado contrário ao do rúmen).

Na vaca, ovelha e cabra o útero gravídico forma um arco (como um “U”) com a vagina no vértice e os ovários nas extremidades.

A torção envolveria a rotação deste arco em seu eixo transversal, pelas mais diferentes causas.

Na gestação avançada, a curvatura menor do útero estaria sustentada dorso lateralmente pelo ligamento largo e a curvatura maior estaria livre no assoalho abdominal, apoiada na parede abdominal e sustentada pelo rúmen e vísceras.

Próximo ao parto, quando o animal torna-se inquieto, os constantes movimentos de deitar e levantar favoreceriam um movimento pendular do útero levando à torção (mais acentuadamente para o lado direito, já que no lado esquerdo o rúmen age como uma barreira).

A torção é considerada segundo o sentido (direita ou esquerda) s segundo o grau, já que segundo tais conceitos os sintomas variam.

< 90º = torção leve: cólicas, posição de dor, sintomas de indigestão, o animal olha para o flanco.

> 90º = severa: sintomas mais sérios (indigestão, meteorismo, dificuldade de locomoção, dorso em sifose, golpeia o flanco).  Uma torção severa pode levar à ruptura do útero no momento do parto ou, caso não seja diagnosticada, morte e mumificação fetal com metroperitonite aguda da fêmea, que tende a se cronificar levando-a à morte.

As torções podem ainda ser classificadas conforme seu grau em leves (até 180º) e severas (maiores que 180º).  Podem ser ainda pré cervicais (raras) ou pós cervicais (freqüentes) e são acompanhadas por uma inversão dos ligamentos.

Sintomas

Nas torções leves geralmente nenhum sinal é observado mas mas severas o animal apresenta dor abdominal, anorexia, constipação, diminuição dos movimentos ruminais, taquisfigmia, mímica de cólica, movimentos rápidos de cauda.  Nas ovelhas observa-se andar rígido e forçado, atitude apreensiva que lembra problemas de digestivo.

As torções inferiores a 180º aparentemente interferem pouco na gestação e somente são diagnósticadas no trabalho de parto (distócico).

Torções entre 45 e 90º detectadas no diagnóstico de prenhez parecem ter correção espontânea.

Etiologia:

  • Falta de fluidos fetais e movimentos violentos de rolamento do feto dentro do útero (gatas e cadelas),

  • Falta de tônus uterino.

  • Uso indiscriminado de ocitócicos em cadelas e gatas.

Diagnóstico:

Dados pelos sintomas.

Inspeção: através de um espéculo é possível verificar o repuxamento do genital, com uma prega espiralada em vagina demonstrando qual é o sentido da torção.

Palpação retal verificando-se a distensão da vagina e a torção dos ligamentos que sustentam o útero.

Tratamento:

Quando diagnosticada pode-se optar por diversos procedimentos:

  • No pré parto: tentativa de correção via retal,  correção via laparotomia pelo flanco direito ou fazer o “rolamento” da fêmea.

  • No parto: manobras corretivas sobre o feto ou cesariana.

 6. Prolapso com inversão de vagina ou prolapso de vagina  

É a saída da membrana mucosa, inicialmente do assoalho da vagina anterior podendo se agravar até haver um prolapso com inversão (saída da vagina e cervix pela vulva).

Pode ser acompanhado de prolapso cervical, retal e de bexiga urinária.

Em casos mais leves a lesão aparece quando a vaca está deitada e desaparece quando ela se levanta, mas a tendência é o agravamento do quadro e infecções secundárias, principalmente miíases.

É observado em ruminantes em prenhez adiantada ou no pós parto.

Suas causas são:

  • Relaxamento do sistema de fixação do genital em animais idosos

  • Substâncias estrogênicas como o trevo subterrâneo da Austrália, rico em fitoestrógenos (ovelha)

  • Aumento da pressão intra abdominal (prenhez adiantada, tenesmo, outras patologias)

  • Tratamentos hormonais ou que causem excessiva irritação da vagina.

  • Deposição excessiva de gordura no tecido peri vaginal relaxando seus ligamentos e aumentando a sua mobilidade.

  • Predisposição hereditária

Sintomas

Exposição de uma formação avermelhada e cilíndrica ao nível dos lábios vulvares.  Tenesmo, inquietação, lesões que podem chegar até a necrose das regiões expostas.

Dissolução parcial ou total do tampão mucoso antes do momento ideal, comprometendo a gestação.

Congestão venosa devido à constrição pela vulva.

Tratamento

Reduzir e manter o órgão em sua posição.

Aguardar o momento do parto em local limpo.

Progesterona (100mg) ou 20mg por 100kg/PV

Aplicar bandagens ou suturas.

 A redução do prolapso através de suturas, se possível, pode ser feita por diferentes métodos:

  • Processo de flessa: trilhos laterais na vulva

  • Processo de Caslik: fitilho umbilical em sutura em U invertido. Secção de parte da vulva diminuindo a abertura vaginal.

  • Processo de Bühner: sutura em bolsa de fumo visando diminuir o óstio vaginal.

7. Ruptura de útero

Geralmente ligadas a histórico de distocia no parto, torção de útero, manobras obstétricas inadequadas, seqüelas de peritonite (aderências), hidropsias e gestação gemelar.

O animal apresenta anorexia, inapetência, timpanismo, parada de ruminação e síndrome cólica.

A evolução do quadro pode seguir diferentes caminhos: morte da fêmea por hemorragia, reabsorção fetal, encapsulamento fetal (gestação mais adiantada), prosseguimento da gestação em cavidade abdominal com aderência do feto aos intestinos e morte por peritonite.

O diagnóstico é dado por palpação retal e pela presença de contrações abdominais nítidas e improdutivas ao término da gestação.

O prognóstico é desfavorável e é necessário intervenção cirúrgica para o parto com histerectomia.

 

8. Lesões

Podem ocorrer em mucosa (desde simples contusões até necrose) ou em vasos (gangrena, tromboses, ulcerações).

 

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Última modificação: 18 maio, 2005