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INTRODUÇÃO:
Para que ocorra o nascimento de um produto normal, é necessário que a gestação e o parto tenham transcorrido sem intercorrências. Qualquer distúrbio em alguma dessas fases pode refletir em problemas com o recém-nascido. Caso
tenha ocorrido algum distúrbio durante a gestação ou parto, o produto deve
ser acompanhado por 24-48 horas. CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO
1- AVALIAÇÃO DA ÉGUA.Deve-se procurar
saber informações completas sobre a égua e eventos próximos ao parto. O tempo de gestação
de uma égua varia de 335 a 342 dias, podendo ser considerada normal entre 305 e
365 dias. Se houver informação
quanto à duração de gestações anteriores, poderemos estimar corretamente a
duração da gestação de cada animal. Condições
maternas podem influenciar na saúde e desenvolvimento do potro, incluindo
problemas reprodutivos passados como distocias, descolamento prematuro de
placenta, inércia uterina, idade materna avançada, problemas músculo-esquelético,
status nutricional indesejável. Exame dos órgãos genitais pode demonstrar problemas de distocias, descarga vaginal ou retenção de placenta. Essa avaliação deve incluir a glândula mamária (uma glândula firme e aumentada pode ser indicativa de mastite, por outro lado, uma glândula flácida pode indicar produção insuficiente de leite). A qualidade do colostro está relacionada com a transferência passiva de imunoglobulinas ao recém-nascido, o colostro deve conter mais de 3000mg IgG/dl, a densidade do colostro está diretamente relacionada com a concentração de Imunoglobulinas, sendo considerada adequada se maior que 1.060. 2 – AVALIAÇÃO DA PLACENTA
Normalmente a placenta pesa 11% do peso do potro. Membranas fetais com mais de 14lbs sugerem a presença de patologia uterina. Os líquidos fetais devem ser avaliados de acordo com a sua coloração e característica. Líquidos escuros ou muito claros são indicativos de infecção, cultura desse material pode identificar a causa da infecção e propiciar caminhos para tratamento do potro potencialmente infectado. A placenta deve ser invertida e a superfície coriônica examinada cuidadosamente para evidenciar placentite bacteriana, o que pode levar semanas para apresentar sintomatologia no potro. Placenta pesada, grossa, edematosa e descorada, é sugestiva de placentite bacteriana, que geralmente resulta de infecção ascendente, que geralmente envolve a área cervical. Cultura de placenta pode indicar a causa da doença bacteriana do neonato. 3-
AVALIAÇÃO DO POTRO
O
exame físico do potro não difere muito do exame de um adulto, entretanto,
valores laboratoriais, sinais vitais e processos patológicos podem variar. Do
exame físico básico provém à maioria das informações para se realizar um
diagnóstico presuntivo, para se formular um plano para terapia de emergência
se necessário. Em uma emergência, os sistemas cardiovascular e respiratório devem ser o foco inicial. Quando não há emergência a preocupação é prevenir problemas posteriores. PARÂMETROS
NORMAIS
Esses
parâmetros mudam rapidamente após as primeiras horas de vida e refletem a
capacidade do neonato se adaptar ao novo ambiente. Um
potro normal geralmente mantém-se em decúbito esternal por 1 a 10 minutos, e
levantar-se com 1 hora de nascimento. Potros
devem apresentar o reflexo de sucção nos primeiros 30 minutos de vida, devem
estar mamando até duas horas após o nascimento, animais que demoram mais de três
horas para mamar são considerados anormais. A
temperatura normal do potro é de 37ºC logo após o nascimento e passa a 38ºC
na próxima hora. Com
relação à freqüência respiratória ao nascimento são 60-70 movimentos por
minutos, até doze horas os movimentos passam para 30-40 movimentos por minuto. A
freqüência cardíaca ao nascimento é de 60-80 batimentos por minutos, pode
chegar a 140 batimentos por minutos com doze horas de vida e permanece em 120
batimentos por minuto com mais de doze horas de nascido. Um
sistema de escore pode ajudar a avaliar a severidade da depressão neonatal e
asfixia. Quadro
1 - Avaliação da depressão do potro neonato (avaliação entre um e cinco
minutos após o nascimento)
Fonte:
Adaptado de Martens (1982) in: Turner (1994) Avaliação Escore
entre 7 e 8 - Potro normal Escore
entre 4 e 6 – Depressão moderada Escore
entre 0 e 3 – Depressão severa Ao
se avaliar um potro ao nascimento, podem ser observadas duas situações
diferentes: Potros
prematuros
Baixo
peso, fraqueza muscular geral, tendência a hipotermia, inabilidade de
levantar-se e ficar em pé. Reflexo de sucção fraco ou ausente, dificuldades
respiratórias, pêlo curto e felpudo, orelhas moles, lábios flácidos, cascos
moles, mobilidade anormal de membros (distensão de tendões flexores). Potros dismaturosTempo de gestação
normal, mas potro com sinais de imaturidade, geralmente devido a desarranjo crônico
durante a gestação, por exemplo, má nutrição fetal, devido à insuficiência
placentária, infecções intra-uterinas e outras. PRINCIPAIS CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDOQUANTO AO
SISTEMA RESPIRATÓRIO:
Quando ocorre a
passagem do feto pela pelve, ocorre a compressão do pulmão, implicando na
expulsão parcial dos fluídos pulmonares, sendo o restante rapidamente
absorvido. Na liberação do
feto da pelve, ocorre a dilatação do pulmão, aspiração do ar para dentro
das vias aéreas superiores, o diafragma inicia contrações rítmicas levando
à pressão intratorácica negativa e aeração do pulmão. Fatores que
estimulam a respiração são: a ausência do reflexo de imersão, o estímulo
aos centros respiratórios como o frio, luz, o tato (lamber da mãe), diminuição
da pressão de O2, aumento da pressão de CO2 e diminuição
de pH. A primeira
respirada é mais difícil, é necessária maior quantidade de energia para que
se consiga encher o pulmão (analogia a uma bexiga). Como já
relatamos, a respiração normal é de 50-60 movimentos por minutos. Se houver
anormalidade na respiração é indicativo de que uma camada mucosa está
obstruindo a boca e as narinas, deve se realizar a limpeza dessas áreas
imediatamente com um pano limpo. Para auxiliar na
eliminação de líquidos das vias respiratórias pode ser feita massagem sobre
as narinas (movimentos de fricção no sentido da cabeça para a extremidade do
focinho), sem tocar a cavidade bucal para se evitar que sejam introduzidas bactérias
na boca do animal e contaminação precoce do aparelho digestivo. Os movimentos
respiratórios podem ser estimulados com os seguintes procedimentos:
A respiração
normal deverá ser restabelecida em dois ou três minutos após o nascimento,
caso isso não ocorra deverá ser administrado oxigênio artificialmente para se
evitar danos cerebrais ou morte. O ar é soprado e expirado em uma das narinas
pelo contato boca/narina. A boca e a narina opostas deverão ser fechadas para o
sucesso do procedimento. QUANTO AO SISTEMA CIRCULATÓRIOCom
o primeiro movimento respiratório, aumenta bastante a atividade circulatória
do pulmão. Os sistemas venoso e arterial são separados pela oclusão do forame
oval e do canal arterial. No
útero, o potro tem dominância ventricular direita e vasoconstrição da artéria
pulmonar para desviar o sangue do pulmão para a placenta realizando a troca
gasosa. A
perda da circulação placentária aumenta a resistência vascular sistêmica,
aumentando a pressão na aorta, no ventrículo e átrio esquerdos. As
artérias umbilicais e a veia umbilical involuem e tornam-se cordões fibrosos
delgados. O
fluxo sanguíneo através do canal arterial e do forame oval se inverte, o que
forma uma válvula fechando e ocluindo o forame, se tornando definitivo com a
sua aderência ao átrio. O fechamento do forame oval e duto arterioso ainda são
reversíveis por alguns dias. Se houver algum problema que aumente a resistência
pulmonar ao fluxo sanguíneo como, por exemplo: por hipóxia ou acidose, existe
a tendência para o retorno á circulação fetal, ativando a respiração
placentária, isso pode ser fatal. Quando
se avalia o recém-nascido com relação ao sistema circulatório, deve-se
iniciar o exame das membranas mucosas, que devem ser úmidas e róseas. O tempo
de preenchimento capilar deve ser inferior a dois segundos. O
pulso arterial deve ser palpado nas artérias facial, branquial, femoral e
metatarsal, não há pulso na veia jugular. Lembrando
que a freqüência cardíaca esperada deve ser ao nascimento – 60-80
batimentos por minuto, entre uma e doze horas de vida, 120-140 batimentos por
minuto e após doze horas, 30–40 movimentos por minuto. Um
murmúrio cardíaco pode estar presente nos primeiros três meses de vida em
animais saudáveis. QUANTO AO CORDÃO UMBILICALApós o parto, é
bom que a égua permaneça deitada por alguns estantes, pois ainda ocorre
passagem de sangue pelo cordão umbilical que normalmente rompe-se quando a égua
se levanta. Caso não ocorra
o rompimento natural do cordão, ele deverá ser cortado a uma altura de dois a
três centímetros do abdome do recém-nascido, onde existe uma linha de
destacamento natural, porém isso só deverá ser feito assim que pararem todas
as pulsações. A seguir o umbigo
deverá ser tratado com solução de iodo e/ou larvicidas para evitar infecções.
No caso de sangramento excessivo o cordão umbilical deverá ser ligado. O potro deverá
ficar em observação por alguns dias. EXPULSÃO DO MECÔNIOMecônio são
restos de excretas que se acumulam no intestino durante o desenvolvimento fetal
após a metade da gestação. Se o potro não
defecar entre quatro e doze horas após o nascimento, deve ser utilizado um
enema via retal para auxiliar essa eliminação. Caso não se possa saber se o
animal defecou, deve-se utilizar o enema o mais rápido possível. A retenção
de mecônio pode causar cólicas fatais. É recomendado um
enema contendo um agente tensoativo de superfície. O ideal é utilizá-lo logo
após o tratamento do umbigo. Pode ser aplicado
de duas maneiras:
A
micção ocorre algumas horas após a excreção do mecônio. Caso
sejam observados sintomas de cólica mesmo após a eliminação do mecônio,
recomenda-se a aplicação de uma solução contendo óleo mineral e leite de
magnésio (200 e 100ml respectivamente) até o estômago, através de uma sonda
nasogástrica. AMAMENTAÇÃOApós o
nascimento o potro apresentará o reflexo de sucção, aproximadamente em uma
hora deverá estar de pé e localizará o úbere da mãe. Caso isso não ocorra,
deverá ser auxiliado com a contenção da égua. O fato de o potro demorar a se
alimentar pode indicar debilidade causada por asfixia nos primeiros minutos de
vida. A
égua produz de 15 a 18 quilos de leite por dia, e o neonato se alimenta em
intervalos de aproximadamente uma hora. O
período mais crítico da amamentação são as primeiras 24 horas, período de
ingestão do colostro. Sabe-se que os anticorpos são responsáveis pela defesa natural do organismo. Devido ao tipo de placenta eqüina (epiteliocorial difusa), é impossível o transporte de imunoglobulinas durante a gestação, desta maneira o único meio de obtenção de anticorpos é através da ingestão de colostro. É bom lembra-se que os recém-nascidos só são capazes de absorver as imunoglobulinas nas primeiras 24 horas de vida. A
glândula mamária não produz os anticorpos, porém os concentra seletivamente
no sangue. O potro ingere o colostro, os anticorpos são absorvidos pelas células
do intestino delgado, passam para o sistema linfático e para a corrente
circulatória. Falhas
no ganho de peso, relutância em mamar, inquietude e vocalização, podem
indicar absorção inadequada. A
égua pode produzir leite em quantidade adequada, porém com teores impróprios
de nutrientes. Este desequilíbrio pode ser confirmado através de uma análise
do leite. Pode ocorrer que por qualquer motivo a égua não aceite o potro, ou então ocorra morte da mãe no momento do parto ou durante o primeiro mês de vida do potro, neste caso deve ser utilizado aleitamento artificial. Para
esses casos deve ser mantido sempre colostro estocado sob refrigeração ou
congelamento. Oferecer
ao potro de um a dois litros de colostro através de mamadeira ou sonda gástrica,
divididos em mamadas de hora em hora. MECANISMO DE TRANSFERÊNCIA DE IMUNIDADE MATERNAL DA ÉGUA PARA A CRIA, ADAPTADO DE JEFFCOTT (1974). FÓRMULAS DE ALEITAMENTO ARTIFICIAL:Fórmula A Leite de vaca –
700 ml Água fervida –
300 ml Lactose ou
glucose – 30 g Carbonato de cálcio
– 5g Gema de ovo – 1 Fórmula B 1/3 de leite de
vaca 1/3 de leite em pó
ou mingau de aveia 1/3 de água
fervida 1 gema de ovo por
litro 3g de lactose por
litro 5 gotas de ácido cítrico. Os potros devem
mamar cerca de 10% de seu peso ao dia em leite artificial, administrado várias
vezes ao dia, com intervalo de duas horas entre as mamadas, nos primeiros cinco
dias de vida. À medida que a quantidade de leite ingerida for aumentando, se
diminui a quantidade de mamadas. O potro deve ser ensinado a mamar em baldes ou
em mamadeiras apropriadas para maiores volumes de leite. Para se manter um
banco de colostro, deve-se ordenhar a fêmea após a primeira mamada da própria
cria, retirar de 150 a 200 ml de leite e congelar entre –15ºC a –20ºC. O ideal é se
dosar a quantidade de IgG no colostro, a quantidade deve ser de no mínimo 3000
mg IgG/dl VALORES QUÍMICOS E HEMATOLÓGICOSNeonatos podem
ter baixa quantidade de células vermelhas, isso pode ser considerada uma anemia
fisiológica, esses valores devem aumentar com a idade, caso isso não ocorra
poderá ser considerado processo patológico. A contagem de eritrócitos de um potro com 48 horas de vida é em torno de 9,5 x 1012 por litro, diminuindo nos primeiros sete dias após o parto. Fatores como secreção de catecolaminas devido à convulsão, esforço ou medo e ajustes no balanço de fluidos entre os compartimentos extra e intra-celulares durante a fase de adaptação extrauterina podem influenciar na contagem de eritrócitos. Doença hemolítica, prematuridade e infecções diminuem o número de eritrócitos, diarréia, desidratação e episódio de convulsão aumentam. A contagem de células
brancas é igual entre o potro e o adulto. No feto existem
mais linfócitos do que neutrófilos. A quantidade de
linfócitos diminui, atingindo a quantidade de adulto por volta dos três meses
(1400 cels/ml). Uma linfopenia
persistente (< 500 cels/ ml)
pode indicar uma imune deficiência. SEPTICEMIA NEONATALEssa doença é a principal causa de morbidade e mortalidade em potros recém-nascidos. 33% das mortes em potros até 2 meses de idade são devido á septicemia, a taxa de sobrevivência pode ser apenas de 26% mesmo realizando-se diagnóstico precoce e tratamento adequado. Quando
o animal sobrevive, geralmente desenvolvem infecções localizadas ( artrites,
osteomielites, pneumonias) que servem de fonte de reinfecção. Essas
infecções podem ser adquiridas intra ou extra-uterinamente, as portas de
entradas mais freqüentes são o trato respiratório e gastro-intestinal,
placenta e intra-uterino. As
causas mais comuns são a falha na transferência de imunidade passiva. Agentes
infecciosos geralmente oportunistas, geralmente gram negativos, geralmente bactérias
saprófitas do trato genital da mãe, pele e membros anteriores. Freqüentemente
Streptococcus estão associados ás bactérias gram negativas. Sintomatologia
como desidratação, debilidae orgânica, apatia, podem aparecer movimentos
descordenados ou coordenados dos membros, que poderão evoluir para convulsões,
opistótono e coma podem ser observados. Dependendo
do severidade das septicemias pode se observar diarréia, dor abdominal,
pneumonia, uveíte, aumento de volume das articulações e osteomielite. O tratamento indicado é a utilização de antibióticos, de preferência escolhido por antibiograma, porém de início utiliza-se aminoglicosídeos + penicilina; cloranfenicol ou sulfa+ trimetropim e tratamento de suporte dependendo dos sistemas acometidos. |
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