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ABORTAMENTOS
Os abortamentos
podem ser espontâneos ou induzidos, infecciosos ou não infecciosos. ABORTAMENTOS NÃO INFECCIOSOS
São mais freqüentes
em bovinos, particularmente bovinos leiteiros, do que em ovinos ou eqüinos. As principais
causas de abortamento não infeccioso espontâneo podem ser: genéticas,
cromossomal, hormonal ou nutricional. Abortamento
espontâneo pode também ocorrer logo após a puberdade ou logo após o puerpério. Éguas parecem
ser endocrinologicamente suscetível a abortamento entre o 5º e 10º mês de
gestação. Gestação múltipla
é uma das principais causas de abortamento em éguas. A inviabilidade de éguas
para sustentarem gestação múltipla está relacionada com insuficiência
placentária, podendo causar morte de um feto ou abortamento de ambos os fetos. No passado
abortamento entre 3 e 4 meses e meio em caprinos Angorá, foram atribuídos a
defeitos hereditários da glândula hipófise parte anterior. Esses abortamentos
estão associados com duas síndromes diferentes: A primeira está
relacionada com estresse nutricional. A ocorrência de hipoglicemia na cabra e
no feto, ativa o eixo hipotalãmico-hipfisário e altera a função endócrina
placentária. PgF2a
liberado pela placenta, causa regressão do corpo lúteo responsável pela
manutenção da gestação causando expulsão de um ou mais fetos recentemente
mortos. Aumentando
o status nutricional , pode-se reduzir esses efeitos. A outra síndrome,
resulta da hiperatividade do córtex adrenal materno, provocando acúmulo de
excesso de líquido fetal por longo tempo. O feto abortado demonstra vários
graus de decomposição. Tabela 1 :
Causas não infecciosas de abortamento em animais de criação.
Fonte: HAFEZ,B e
HAFEZ, E.S.E (2000) ABORTAMENTOS
INFECCIOSOS
Abortamentos infecciosos são os
responsáveis pela maior porcentagem de perda de gestação em animais de produção. Bovinos:
NEOSPOROSE Neospora
caninum é um protozoário recentemente descoberto, o qual era previamente
confundido com Toxoplasma gondii. É a maior causa de abortamento em
muitos países. O feto é abortado entre 3 e 8 meses de gestação. Neospora
sp tem a habilidade de ser transmitido da mãe para os filhos por várias gerações.Esse
modo de transmissão ode ser responsável pela manutenção da infecção na
população apesar de não haver o hospedeiro definitivo para o parasita. O N.
caninum congenitamente adquirido é capaz de causar uma grande quantidade de
abortamentos em novilhas durante o início de gestação, diminuindo o
abortamento em gestações subseqüentes. ABORTAMENTO EPIZOÓTICO
BOVINO Abortamento
Epizoótico bovino é uma infecção transmitida por artrópode, carrapato argasídeo
(Ornithodoros coriaceus), encontrado em regiões como as localizadas nas
encostas das montanhas da Califórnia e estados vizinhos, onde esta afecção é
endêmica. Ainda não foi demonstrado se outros argasídeos podem transmitir a
doença. No Brasil são encontrados argasídeos das espécies Ornithodoros
rostratus e Ornithodoros braziliensis, principalmente no Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. O
abortamento ocorre mais freqüentemente no último trimestre da gestação em
animais introduzidos recentemente em pastagens onde esta afecção é enzoótica,
os animais nativos são resistentes. Os casos de abortamento podem exceder 80%,
principalmente em novilhas. O abortamento é devido à uma infecção crônica
fetal. A vaca dificilmente aborta uma segunda vez, o feto geralmente nasce vivo
e morre no parto ou é natimorto. Observam-se
petéquias e hemorragias nas mucosas orais e nasais, os órgãos linfóides estão
aumentados, nas cavidades há fibrina e fluído amarelado, pode haver lesões
hepáticas. A vaca não apresenta sintomas. O
agente etiológico não está bem definido, acredita-se que possa ser Chlamydia
psittaci, outros dizem que pode ser a Borrelia coriaceus. Não
há evidência da transmissão de animal para animal. LISTERIOSE A
listeriose é uma doença causada pela Listeria monocytogenes ,
caracterizada por meningoencefalite, abortamento ou septicemia. Estes diferentes
tipos de manifestações parecem estar relacionados à porta de entrada do
agente, quando a transmissão ocorre por inoculação através da conjuntiva,
apresenta-se a forma de meningo-encefalite, quando ocorre pela ingestão de
material contaminado observa-se o abortamento e a listeriose visceral. O diagnóstico
pode ser estabelecido pelo isolamento e identificação do agente do conteúdo
do estômago do feto abortado, no caso de menigo-encefalite, o material
utilizado é o líquido céfalo-raquidiano. CAMPILOBACTERIOSE A
campilobacteriose ou vibriose é uma enfermidade infecto-contagiosa de transmissão
venérea. Caracteriza-se nas fêmeas por infertilidade transitória e
abortamentos. O agente etiológico é Campylobacter fetus subespécie
venerealis, anteriormente conhecido como Vibrio fetus. As
lesões obsevadas com maior freqüência nas vacas são cervicite, endometrite,
salpingite. Se o abortamento ocorre é geralmente entre o 5º e 6º mês de
gestação. Nos
touros o microrganismo se estabelece nas criptas epiteliais do pênis e no prepúcio,
onde se multiplica intensamente não provocando lesões. O touro caracteriza-se
como portador são, transmitindo a infecção por períodos prolongados. O
diagnóstico deve ser estabelecido através de isolamento e identificação do
agente por técnicas bacteriológicas do muco vaginal e secreções uterinas, de
lavado prepucial do touro e do conteúdo do estômago e fígado do feto
abortado. BRUCELOSE O
agente etiológico é Brucella abortus. A brucelose bovina constitui um
problema de grandes dimensões, pois causa prejuízos econômicos, representados
pela alta taxa de abortamento e subseqüente infertilidade que caracteriza a
doença, além de sua importância como saúde pública. A
bactéria tem predileção pelo útero gravídico, úbere, testículo,
linfonodos e articulações. Através da produção de eritritol durante a gestação,
um açúcar produzido pela placenta, ocorre a multiplicação da bactéria que
determina uma endometrite ulcerativa dos espaços intercotiledonares. O córion-alantóide,
líquido amniótico, e cotilédones são invadidos a seguir e a vilosidade
destruída. Abortamentos ocorrem no último terço da gestação, pode ocorrer
também retenção de placenta e metrite. No touro observa-se orquite e
epididimite. LEPTOSPIROSE Agente
etiológico é Leptospira interrogans . Leptospirose apesar de
cosmopolita é mais prevalente em áreas úmidas e de solo alcalino. Entre
bovinos, a taxa de mortalidade é baixa (5%) e a morbidade é alta. A taxa de
abortamento é superior a 30%.Importante aspecto é a transmissibilidade ao
homem. O touro infectado ode transmitir a leptospirose pelo coito. A fonte de
infecção é geralmente um animal infectado que contamina a pastagem, a água e
alimentos através da urina, fetos abortados e descargas uterinas. É importante
o papel dos reservatórios selvagens como roedores, herbívoros e suídeos
selvagens, assim como o cão e o coiote. A penetração do microrganismo se dá
principalmente através de abrasões cutâneas e das mucosas. O abortamento
ocorre geralmente no último trimestre da gestação. Após
a penetração o microrganismo se multiplica rapidamente na corrente circulatória
sendo encontrado no sangue periférico por vários dias, atinge os rins onde se
mantém por tempo prolongado. Os animais apresentam leptospirúria por vários
meses, por períodos de 10 a 118 dias. RINOTRAQUEÍTE
INFECCIOSA BOVINA (IBR-IPV) É
causada por Herpesvirus bovis 1 .Os bovinos são suscetíveis, o homem não
é sensível. É
uma doença aguda, contagiosa e febril, manisfeta-se por dispinéia, rinite e
traqueíte e abortamento. O
vírus causa infecção respiratória, e posteriormente atinge a placenta e o
feto causando abortamento ou natimortalidade. A infecção é mais freqüente em
animais jovens. O
período de incubação varia de 2 a 6 dias. A morbidade é de 30 a 90%, e a
mortalidade de 3%. O período de evolução é de 7 a 14 dias, por volta do 3º
dia o vírus está presente, na descarga nasal e ocular. Podem ocorrer
portadores convalescentes. O
vírus se mantém viável em sêmen congelado. No
feto observa-se necrose liquefativa da córtex renal com edema do períneo,
necrose focal no fígado. Há corpúsculos de inclusão intracelulares (na
periferia das lesões necróticas) em hepatócitos e células de kupfer. As
fêmeas podem abortar entre a 3ª semana e o 4º mês após a infecção,
portanto em qualquer estágio da gestação, embora geralmente os surtos ocorram
na segunda metade da gestação. O vírus pode ser isolado de tecidos fetais e
cotilédones. ABORTAMENTO
BOVINO POR BVD(Vírus da Diarréia Bovina) BVD
é uma infecção viral subclínica que geralmente permanece não diagnosticada
na propriedade, entretanto em algumas ocasiões apresenta-se de forma aguda
febril, podendo ocasionar alta mortalidade e abortamentos. Os fetos apresentam
hipoplaasia cerebelar, malformações (hidroencefalia, microencefalia,
porencefalia), catarata, alopecia, hipoplasia timica, retardo do crescimento
intra-uterino.Os fetos abortados podem estar em autólise ou mumificados ou
normais. Os tecidos linfóides são preferenciais para o isolamento do vírus,
especialmente o baço. A
infecção do embrião durante o primeiro mês de gestação usualmente
determina morte e reabsorção embrionária, do segundo ao quarto meses resulta
em malformações do SNC, mumificações e abortamentos. Do quinto ao sexto
meses, malformações oculares, após o sexto mês também resulta em
abortamento. O abortamento ocorre alguns dias a 2 meses depois da infecção da
fêmea. Também pode ocorrer parto prematuro duas ou três semanas, ou
natimortos ou nascimento de bezerros fracos. Há presença de anticorpos tanto
na vaca como na cria. Estes bezerros podem transforma-se em portadores e conseqüentemente
em fontes de infecção. ABORTAMENTO
MICÓTICO Em
relação aos abortamentos micóticos THEOBALD SMITH, realizou o primeiro
isolamento de fungos de membranas fetais de bovinos em 1920, isolando Rhizopus
rhizopodiformis. A partir de 1970 o abortamento micótico passou a ser
considerado como doença produzida pela infecção fúngica do aparelho
reprodutor. Quanto á freqüência de sua ocorrência não se dispõe de dados
no Brasil. Na Inglaterra, quatro a 24,9% de todos os abortamentos são de origem
micótica, e na USA a incidência anual varia de zero aa 16,4%, a freqüência
aumenta no inverno, sendo mais prevalente em anos de maior precipitação
pluviométrica. Embora não perfeitamente esclarecida, acredita-se que a infecção
pode ocorrer por via aerógena ou digestiva, e a partir de foco primário
posterior estabelecimento no útero, por via hematógena. No
útero instala-se nos cotilédones e áreas intercarunculares determinando
hiperemia, hemorragia, infiltração de polimorfonucleares e eosinófilos.
Posteriormente, necrose entre o córion e a placenta, tendendo causar a separação
pela formação de exudato rico em hifas. Não
se observam sintomas nas fêmeas antes do abortamento, que ocorre entre o 7º e
8º mês de gestação. O
diagnóstico clínico é realizado através da observação do aspecto da
placenta e cotilédones e presença de lesões de pele no feto. Necrose central
de cotilédones é comumente observada, assim como espessamento das zonas
intercarunculares. A
primeira observação de lesões na pele do feto foi um aborto por Aspergillus
fumigatus. O
prognóstico quanto á fertilidade gestações futuras é bom, pois não há
comprometimento na próxima prenhez, provavelmente pela eliminação do fungo,
através da regenera cão da parede uterina. Recomendam-se
medidas higiênicas, manejo adequado, alimentação, evitar alimentos mofados. ABORTAMENTO
BACTERIANO INESPECÍFICO Uma
grande variedade de espécies bacterianas de diferentes níveis de
patogenicidade pode causar abortamentos em bovinos. Como por exemplo: Streptococcus
spp.; Staphylococcus spp.; Bacillus spp.; Pseudomonas spp.; Escherichia coli.;
Nocardia asteróides; Corynebacterium spp.; Aeromonas spp.; Alcaligeness spp.;
Serratia marcescens; Salmonela sp.; Haemophilus sp.; Erysipelothrix
rhusiopathiae. São microrganismos ubiqüitários, alguns deles considerados
apatogênicos ou de baixa patogenicidade, mas providos de capacidade
abortofasciente. Há poucos relatos de abortamentos por microrganismos anaeróbios.
Para se considerar como agente etiológico do abortamento devemos levar em
consideração alguns critérios: serem isolados em grande quantidade e em
cultura pura do material examinado (conteúdo de estômago do feto e ou
tecidos). Tabela
2 – Resumo das doenças causadoras de abortamento em bovinos.
Fonte:
HAFEZ,B e HAFEZ, E.S.E (2000). Tabela
3 – Resumo das doenças causadoras de abortamento em ovinos e caprinos
Fonte:
HAFEZ,B e HAFEZ, E.S.E (2000). Tabela
4 – Resumo das doenças causadoras de abortamento em suínos
Tabela
5 – Resumo das doenças causadoras de abortamento em eqüinos.
Fonte:
HAFEZ,B e HAFEZ, E.S.E (2000). REFERÊNCIAS
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